O que parecia ser apenas mais uma denúncia de fraude no setor financeiro acabou se transformando em uma das maiores operações contra golpes de crédito consignado no Amazonas. A Polícia Civil (PC-AM) desmantelou um esquema criminoso que, segundo as investigações, lesou centenas de professores da rede pública estadual, movimentando mais de R$ 3 milhões.
Batizada de Operação Lousa Negra, a ação escancarou uma rede de corrupção que ia muito além de golpistas comuns. Entre os sete presos estão figuras surpreendentes: um pastor evangélico, um pai de santo e até um gerente bancário, todos diretamente envolvidos na execução das fraudes.
De acordo com a polícia, a quadrilha agia de maneira organizada. O foco? Professores da capital e do interior, profissionais muitas vezes sobrecarregados e que só descobriam o golpe quando os descontos indevidos começavam a aparecer em seus contracheques.
O modus operandi era sofisticado. Primeiro, o grupo conseguia acesso às informações sobre a margem consignável das vítimas. Na sequência, falsificavam documentos e usavam “laranjas” para contratar empréstimos em nome dos professores — tudo isso sem que eles sequer soubessem.
O detalhe que chama a atenção é que o esquema contava com o suporte de correspondentes bancários e de um gerente de agência, que liberava os empréstimos de forma irregular, burlando as normas internas. O gerente, inclusive, já estava na mira da polícia por envolvimento em outros esquemas de financiamento ilícito de veículos de luxo.
Os golpistas se aproveitavam de uma funcionalidade dos bancos conhecida como “clique único”, onde empréstimos podem ser contratados digitalmente, sem presença física — uma brecha que acabou facilitando o crime.
Entre os nomes revelados estão Alan Douglas Pereira Barbosa (gerente bancário), John Harry Santos da Silva (pastor), Luiz Roberto Lima Fonseca (pai de santo), além de outros quatro envolvidos. Mas a polícia ainda procura mais sete suspeitos, que estão foragidos.
Religião, finanças e crime: quando os limites se rompem
O envolvimento de líderes religiosos nesse tipo de crime abre um debate delicado: até que ponto a influência espiritual pode ser distorcida para fins escusos? Em um estado onde boa parte da população é de baixa renda, golpes como esse representam mais que um prejuízo financeiro — são verdadeiros ataques à dignidade.
A PC-AM reforça que as investigações continuam e pede que vítimas ou pessoas com informações sobre os foragidos denunciem, garantindo sigilo absoluto.
Enquanto isso, os detidos responderão por estelionato, falsidade ideológica, organização criminosa e uso de documentos falsos, entre outros crimes. O caso já é considerado um dos maiores escândalos financeiros envolvendo servidores públicos no Amazonas nos últimos anos.
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