A presença e influência das rádios evangélicas nas capitais brasileiras

A presença e influência das rádios evangélicas nas capitais brasileiras

Uma pesquisa recente identificou 407 emissoras de rádio FM nas capitais brasileiras. Dessas, 101 são classificadas como evangélicas — ou seja, voltadas para o público das igrejas evangélicas, com programações específicas que incluem pregações, músicas religiosas, entretenimento e notícias. Em muitas cidades, é comum que os cultos sejam transmitidos ao vivo diretamente dos templos, transformando-os também em estúdios de rádio.

A presença expressiva da linguagem religiosa nos dials das rádios FM e AM em todo o país se deve, em grande parte, à atuação de redes evangélicas que operam de maneira estruturada e profissional. Essas redes não se limitam ao conteúdo religioso: contam com departamentos comerciais e financeiros bem desenvolvidos, o que contribui para campanhas de marketing integradas com suas empresas parceiras — como editoras, gravadoras, agências de turismo, instituições de ensino e lojas físicas ou virtuais. Frequentemente, esses produtos e serviços são oferecidos em espaços localizados dentro ou ao lado dos templos.

Portanto, discutir o papel das rádios evangélicas vai além de aspectos técnicos ou do alcance das ondas de transmissão. A estrutura empresarial e o modelo de negócios dessas redes seguem um padrão profissionalizado, sem deixar de lado os mecanismos eclesiásticos tradicionais, como o recebimento de dízimos e ofertas.

Embora se possa argumentar qualitativamente que a representatividade das rádios evangélicas — cerca de 24,8% nas capitais — não seja tão expressiva, esse percentual revela um dado relevante quando considerado em conjunto com o fenômeno da “propriedade cruzada” da mídia. As redes evangélicas de comunicação não se restringem ao rádio: elas também detêm canais de TV aberta e por assinatura, portais na internet, jornais impressos e outros veículos de mídia.

Esse modelo de concentração midiática permite que os mesmos comunicadores atuem em múltiplas frentes — como âncoras de rádio, colunistas, apresentadores de TV ou influenciadores digitais —, aumentando sua visibilidade e capacidade de articulação social e política. Muitos desses comunicadores acabam por ingressar na política, capitalizando seu poder de alcance midiático.

No contexto brasileiro atual, as redes de comunicação evangélicas não apenas veiculam mensagens religiosas, mas também desempenham um papel ativo como atores políticos. A representação política evangélica, portanto, está profundamente associada ao controle e à expansão dos meios de comunicação. Isso reflete uma estratégia de missão onde a evangelização passa necessariamente pela posse e pelo domínio das mídias de massa.

Por esse motivo, muitos políticos evangélicos eleitos em diferentes esferas governamentais mantêm vínculos diretos com essas redes de comunicação. A atuação política, neste cenário, não é apenas uma extensão da atividade religiosa, mas um instrumento estratégico para garantir a permanência e ampliação da influência midiática das igrejas.

Em suma, a missão evangelizadora de grande parte das igrejas evangélicas no Brasil contemporâneo está intimamente relacionada à aquisição e ao controle dos meios de comunicação. As redes de comunicação evangélicas, muitas delas caracterizadas como uma forma de “coronelismo eletrônico”, são concessionárias de radiodifusão e representam, pragmaticamente, a base de sustentação política de diversas lideranças evangélicas no país.

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