O pesquisador e especialista em sexualidade e religião, Brendo Silva, de 33 anos, lançou um livro que promete estremecer os bastidores da Igreja Católica. A obra, intitulada “A Vida Secreta dos Padres Gays”, publicada pela Matrix Editora, traz relatos de experiências vividas por ele durante os sete anos em que foi seminarista, incluindo passagens na França e no Brasil.

Brendo afirma que abandonou a formação para o sacerdócio há uma década, “de cabeça erguida”, justamente por não aceitar viver uma vida dupla — realidade que, segundo ele, seria comum entre religiosos católicos.

“A maioria vive uma vida dupla. Muitos são homossexuais, outros mantêm relacionamentos escondidos. Eu não queria isso para mim”, declarou.

Celibato: uma “farsa necessária”?

No livro, o autor descreve o celibato como uma “farsa” institucionalizada dentro da Igreja. Para ele, mais do que um voto espiritual, o celibato serve como uma estratégia para proteger o clero de cobranças sociais.

“Se o celibato acabasse, a sociedade ia perguntar: por que esses padres não se casam? A resposta esbarraria no fato de que a maioria não teria como se adequar a uma visão tradicional de casamento heterossexual, especialmente porque muitos são gays”, afirma.

Brendo sustenta que abolir o celibato “não resolveria a questão da sexualidade na Igreja”, já que o problema é estrutural e cultural, não apenas doutrinário.

Encontro com bispo e “rave” de padres

O livro não economiza nos relatos diretos e impactantes. Um dos episódios mais controversos envolve um encontro sexual com um bispo emérito de São Paulo, que, segundo ele, havia sido reitor de uma paróquia no interior paulista e, posteriormente, atuou na região Norte do país.

“Nos conhecemos no Facebook, ele me chamou pra almoçar na Praça da República, em São Paulo, e o papo caminhou para o motel. Isso aconteceu mais de uma vez”, relata.

Outro trecho da obra detalha uma festa em um sítio em São José do Rio Pardo (SP), organizada por um grupo secreto de religiosos. Segundo Brendo, o evento contou com a participação de padres e seminaristas de uma mesma diocese, em um ambiente de “beijo, pegação e relações sexuais”. Alguns dos presentes seriam nomes conhecidos da Igreja, inclusive figuras públicas que, em suas pregações, condenam abertamente a comunidade LGBTQIA+.

Saída sem escândalos

Brendo reforça que sua saída da Igreja não teve relação com qualquer tipo de punição ou escândalo. Pelo contrário:

“Eu tenho cartas de recomendação assinadas por padres me elogiando. Saí porque não fazia mais sentido continuar. Isso, inclusive, irrita muitos deles — porque não podem dizer que fui expulso.”

Hoje, o ex-seminarista se declara ateu e dedica sua carreira a pesquisas nas áreas de sexualidade, religião e comportamento social.

📖 O que diz a Igreja?

Até o momento, nenhuma autoridade da Igreja Católica se manifestou oficialmente sobre o conteúdo do livro. O tema, porém, reacende discussões antigas sobre a obrigatoriedade do celibato, a hipocrisia institucional e a relação da Igreja com a sexualidade, especialmente no que diz respeito à homossexualidade dentro do clero.